Esta semana iniciou-se com a trágica notícia de que a jovem sul coreana Choi Jin-ri, mais conhecida como Sulli, tirou sua própria vida no domingo. Ela era atriz, cantora de K-pop, tinha 25 anos, mais de 6 milhões de seguidores no Instagram e é a mais recente vítima da depressão causada pelo uso das redes sociais.
Apesar de ter raízes coreanas e simpatizar com as músicas dos mundialmente famosos grupos de K-pop, não sou fã do gênero e não acompanho as notícias sobre eles, mas a morte de Sulli despertou minha atenção pelo fato de não ter sido um caso isolado. Senti-me como se ontem mesmo tivesse lido a mesma notícia, e isso me incomodou. Muito.
De acordo com dados da OMS, a Coréia do Sul tem a segunda maior taxa de suicídios do mundo. Em comparação com outros países desenvolvidos, o grupo social que mais concentra casos de suicídio são os idosos, ocasionados, em sua maioria, pelo baixo nível socioeconômico.
Apesar de significativamente menor, o nível de suicídio entre os jovens também é considerado alarmante, mas diferente dos idosos, o alto nível de estresse, falta de sono, uso de álcool e tabagismo são os principais causadores de suicídios entre adolescentes e jovens adultos no pequeno país.
Sulli iniciou sua carreira como atriz mirim em 2005, e de 2009 a 2014 foi uma das cantoras do grupo f(x), que foi forçado a um hiato em sua trajetória por ser alvo constante de comentários de ódio na internet.
A jovem, inclusive, já havia desabafado nas redes questionando os seguidores sobre o motivo pelo qual ela recebia tantas mensagens negativas. No dia 13 de outubro de 2019 ela atingiu seu limite pois, infelizmente, a depressão foi mais forte do que ela.
O caso da jovem sul coreana é apenas mais um dentre tantos outros que ocorrem diariamente. O julgamento que vem da sociedade na qual estamos inseridos parece demonstrar que estamos nos tornando cada vez mais ineptos para lidar com questões humanas!
Sim, paradoxal, eu sei.
Muito se discute, por exemplo, sobre como a internet acaba sendo uma “proteção” para a disseminação de discursos de ódio, mas mais do que isso, a internet está nos afastando cada vez mais dos nossos relacionamentos interpessoais. O resultado disso é a evidente falta de empatia que, consequentemente, gera um afastamento abismal do conceito de perspectivas múltiplas da realidade.
Por não estarem frente a frente, o ofensor disfere seus golpes verborrágicos contra o ofendido como se estivesse falando com algo inanimado, com a própria máquina. As pessoas são julgadas por sua aparência, por uma fofoca, por notícias falsas ou por ter tirado uma fotografia com um fundo amarelo que não combinou com sua roupa laranja e o sapato azul. Parece que atingir negativamente as pessoas alimenta um sentimento de vitória, superioridade ou bem-estar.
Agora, pensem em uma situação como essa iniciada no mundo digital e transporte-a para fora, para um local público, por exemplo. Será que o ofensor teria coragem de maldizer o ofendido, da mesma forma, diante de tantas outras pessoas? Será que, se o ofensor parasse por dois segundos e se colocasse no lugar da vítima, ouvindo todas as suas provocações, ele daria continuidade ao ato ofensivo? Os comportamentos seriam os mesmos?
Causar mal-estar a outrem através das mídias sociais passou a ser visto como um problema quando se tornou um “padrão comportamental”, pois padrões não são simples de mudar, requerem muita reflexão, e principalmente, muita ação. Você até pode ser um ativista contra maus-tratos de animais e fazer coisas louváveis pela causa, mas se ao mesmo tempo denigre a imagem daquele seu amigo no Facebook porque ele pensa diferente de você ou faz comentários maldosos sobre a foto do outro no Instagram porque ele tem um corpo diferente do seu, está na hora de parar para rever a forma como suas atitudes estão refletindo seus verdadeiros valores.
Eu costumo dizer que não devemos, nunca, julgar alguém por apenas um comportamento. Nós nem sempre estamos em um bom dia, felizes, tranquilos e com as contas todas pagas, afinal, a vida hoje em dia é uma loucura. É inevitável que vez ou outra tenhamos comportamentos não condizentes com a nossa essência como seres humanos, mas eventualmente acontece, pois não somos impermeáveis às falhas.
A questão que fica para mim é: se somos todos igualmente imperfeitos e diferentes, por que não somos igualmente tolerantes com nossas diferenças e imperfeições?