Se fossemos colocar a minha trajetória profissional em um gráfico ele seria mais ou menos assim:
Quando eu estava prestando vestibular fui convencida de que deveria fazer a faculdade de Direito, porque sempre tive uma escrita muito boa, era ótima numa discussão e sempre defendi meus pontos de vista com bastante segurança e, além disso, o curso de direito “abre um leque de possibilidades”, como se isso fosse suficiente para definir toda a vida de uma pessoa.
Então, eu descartei a faculdade de arquitetura que eu havia considerado, porque amo desenhar, e a de odontologia, porque sempre fui fera em áreas biológicas.
A sociedade, naquela época, pregava que deveríamos fazer uma faculdade mais ‘clássica’, que nos desse mais segurança sobre nossas opções para o futuro e uma carreira promissora. E, apesar de não existir ainda, eu ficava me imaginando em um cenário exatamente como o da série Suits, que é o sonho de todo ‘projeto de advogado’ por aí.
Quando a faculdade e a vida pós-faculdade não são exatamente o que você pensava
Posso dizer que foram 5 anos bem desgastantes, estudando matérias que não faziam sentido nenhum para mim, batendo perna de fórum em fórum, e sendo, muitas vezes, hostilizada por advogados recém-formados arrogantes.
Saindo da faculdade, fui trabalhar como consultora tributária em uma grande multinacional. Eu não amava o que eu fazia lá, mas gostava da empresa, dos meus colegas e do intenso aprendizado diário.
Eu trabalhava em um ritmo frenético, dormia pouco e vivia estressada. Em 2012, fui alocada para um projeto de outsourcing em uma grande varejista, para ajudá-los no gerenciamento dos processos judiciais tributários da empresa. Eu detestava o trabalho, e o clima organizacional era péssimo.
Fiquei ali durante alguns meses e, nesse período, fui apresentada ao meu futuro sócio, que fez a mim e minha irmã uma proposta para abrirmos uma empresa de importação de produtos médicos. Como sempre quisemos ter a nossa própria empresa, por acharmos que isso se resumia à flexibilidade e retorno financeiro (coitadas!), e eu estava infeliz no trabalho, não tive que pensar muito para tomar a minha decisão.
Não tome decisões quando estiver em um estado emocional negativo
Sem qualquer planejamento, larguei meu emprego e fui dedicar 100% do meu tempo ao nosso negócio. Nossos papéis eram bem definidos: eu cuidaria da parte jurídica e regulatória (Anvisa, Inmetro, etc), minha irmã da parte financeira e nosso sócio da área comercial que era, sem dúvidas, o seu forte.
O problema é que ninguém havia contado para nós (e cometemos o erro enorme de não nos informarmos adequadamente com antecedência) que o mercado de produtos médicos no Brasil não é apenas burocrático, é muito burocrático! Coloquei todas as minhas reservas financeiras na empresa para conseguir fazê-la girar enquanto não tínhamos nenhum produto em mãos, porque as aprovações dos registros de produtos pela Anvisa são muito demoradas.
O tempo passou, e essa rotina foi me desgastando, não apenas pela dificuldade de colocar os produtos no mercado, mas meu sócio estava perdendo o foco, se afastando cada vez mais da empresa (e, portanto, não vendendo como deveria) e eu e minha irmã sofríamos constantemente com o ceticismo por parte dos machistas de plantão no mercado. E posso afirmar para vocês que, quando se sofre esse tipo de discriminação constantemente, manter-se motivada torna-se uma tarefa bastante complexa.
Fiquei na empresa por 7 anos, trabalhando muito, aprendendo muito, mas fazendo tudo isso sem qualquer propósito. Em 2018 atingi o meu limite.
Decidimos mudar somente quando batemos no fundo do poço
É engraçado como conseguimos perceber quando um ciclo termina, a sensação chega a ser física, você realmente não consegue mais levar aquilo adiante e eu sabia que insistir e continuar seria uma decisão estúpida da minha parte, mas isso chegou a cruzar minha mente, porque “desistir” de uma empresa que você fundou é muito difícil, elas são como filhos para nós.
Coincidentemente, nesse mesmo período, estava enfrentando problemas pessoais intensos que, acumulados com os problemas que estávamos tendo na empresa, acabaram culminando em um colapso mental, e tive de levantar a mão e pedir ajuda.
Vendi minha quota parte e, em janeiro de 2019, terminei minha transição. A empresa já não estava mais sob minha responsabilidade. Eu e minha irmã demos as mãos e encaramos esse momento de nossas vidas juntas.
A partir daí…branco total. Eu não tinha a menor ideia do que iria fazer da minha vida. Mas uma certeza eu tinha: iria trabalhar com algo que me trouxesse o mínimo de satisfação, um senso de propósito, de estar fazendo a diferença para alguém nesse mundo!
Decidi que queria trabalhar com pessoas. Eu já estudava temas relacionados ao desenvolvimento pessoal e inteligência emocional há algum tempo e vi como isso foi benéfico para mim, porque me ajudou a enxergar quem eu realmente era, e aonde eu queria chegar como ser-humano e profissional. Minha primeira opção era entrar no mercado como headhunter (sim, decidir voltar ao mercado também não foi fácil) para conseguir aproveitar meus anos de experiência profissional, e comecei a enviar meu currículo para as empresas.
Nesse meio tempo, fui fazer minha certificação como Life Coach, pensando no conhecimento que isso agregaria para minha futura profissão. Então, o inesperado aconteceu: eu simplesmente me apaixonei pelo ofício no primeiro dia de curso e tinha certeza, dentro de mim (sim, podemos dizer que foi uma combinação de intuição com razão) que iria exercer aquela atividade a partir de então.
Em 2019, dediquei-me quase exclusivamente aos estudos e alcancei a certificação como Master Coach pela SLAC – Sociedade Latino Americana de Coaching. Fiz muitos atendimentos de coaching gratuitos e sabia que conseguiria fazer isso pelo resto da minha vida, para mim, todo esse processo fluiu organicamente.
Nessa época, também redescobri meu amor pela escrita, respirei fundo, superei o meu medo de exposição e publiquei meu primeiro artigo no LinkedIn em abril de 2019. A partir daí, passei a dedicar um pouco mais do meu tempo à rede e, em poucas semanas, tornou-se a plataforma que eu mais acesso diariamente. Os textos que eu postava com intervalo de meses um do outro acabaram ganhando frequência semanal no final daquele ano, e hoje eu não consigo passar mais de dois dias sem produzir algum tipo de conteúdo.
Estou recomeçando, de novo, a minha carreira e sempre me pego pensando em como a vida nos conduz por caminhos inesperados, não importa o planejamento que você tenha para o seu futuro. E quando percebo que estou me ‘autoflagelando’ por ter “desperdiçado” tantos anos da minha vida com atividades que não me traziam alegria, penso que só cheguei até aqui justamente por ter passado por tudo isso, por ter acumulado toda essa experiência e por ter tido coragem de confrontar minha própria realidade, por mais dolorido que fosse, e assumir que eu precisava mudar o curso que minha vida tinha tomado.
Hoje, levanto-me da cama todos os dias sentindo a alegria de trabalhar com algo que faz sentido para mim, mesmo diante da incerteza de como será o dia de amanhã e sem carregar aquela pesada culpa de ter chegado aos 30 anos sem ter conquistado todas as coisas que eu imaginava que teria com essa idade (ou que me cobrava para ter com essa idade). E tudo bem!
Com o tempo, se olharmos de perto, percebemos que não somos tão pirados assim, mas que vida com certeza é muito louca, e devemos aprender a desfrutar dela em todas as suas formas!