Ultimamente tenho me questionado sobre como as pessoas se tornaram tão obcecadas por si mesmas? Até que ponto isso é sustentável? O que isso está fazendo conosco?
Os autores Carl Cederstrom e André Spicer discutem em seu livro Wellness Syndrome (Síndrome do bem-estar) como a pressão para atingir o chamado “bem-estar” tornou-se um comando moral, e como isso acabou se tornando uma “imposição onerosa” para as pessoas.
Cederstrom e Spicer descrevem o “bem-estar” como um “trabalho emocional extra” para todos que, no dia a dia, já tem muito no que pensar e executar. Discutindo os trabalhadores dos armazéns da Amazon, por exemplo, os autores observam: “Embora estejam em uma situação precária, eles são obrigados a esconder esses sentimentos e a projetar um eu confiante, otimista e empregável.”
Mas e quanto aos adeptos do movimento do “eu quantificado” (quantified-self), que usam ferramentas e aplicativos para rastrear não apenas a qualidade de seu sono, mas quantos passos dá por dia, quantas calorias ingere, quantos litros de água toma e assim por diante?
É mais fácil descartar tudo isso como sendo um egocentrismo ativado tecnologicamente, mas os autores oferecem um diagnóstico mais compreensivo e preocupante: talvez essas pessoas tenham “desistido de seu projeto pessoal e tenham entregue voluntariamente seus corpos à uma causa maior, a da produtividade”.
É como se existisse uma incompatibilidade entre manter o bem-estar individual e conviver em sociedade. Perceba que cada um tem uma definição de bem-estar diferente, não existe uma fórmula mágica que atenda às necessidades de todos.
Acabamos sucumbindo às fugazes tendências de alimentos, moda e saúde. A tecnologia praticamente extinguiu a fronteira entre vida pessoal e vida profissional. Existe a expectativa de que façamos cada vez mais e mais e mais, não importa o que, e para que estamos fazendo, o que acabou transformando a busca por aperfeiçoamento pessoal em uma corrida maluca.
Mas, novamente, ficamos com as perguntas: aperfeiçoar o que? E para que (ou quem)? Buscar desenvolver uma nova habilidade, uma nova competência, ir com mais frequência à academia, comer de forma mais saudável, aprender uma nova língua, fazer 50 novas amizades por mês, meditar duas vezes ao dia, afinal, o que você está buscando? Isso realmente faz sentido para você? Complementa quem você é, ou lhe transforma em outra pessoa? Você sente essa pressão vindo da sua família, da sua equipe no trabalho, da sociedade?
Tomem cuidado com a lavagem cerebral que essa ditadura do bem-estar pode fazer. É possível que, mesmo não chegando a esse ponto, ainda nos deixaremos seduzir por algum aspecto dela.
É saudável e importante preocupar-se em querer melhorar, principalmente se nossa definição de “bem-estar” englobar também habilidades intelectuais ou comportamentos em relação aos outros. Precisamos de uma nova atitude. Esses autores, sem dúvida, concordariam que não há nada errado em estar bem ou querer estar bem. Mas, como mostra seu livro, ser bem informado é uma questão completamente diferente. Conhecer-se é uma questão completamente diferente, e é necessária, principalmente quando se trata de saúde mental.
Uma sociedade onde o “bem-estar” é obrigatório é uma sociedade doente.