Sobre a Coragem de Ser Vulnerável em um Mundo de Pessoas (aparentemente) Inabaláveis

Após assistir o TED Talk e o documentário da Brené Brown, pesquisadora que há mais de 12 anos estuda a vulnerabilidade, peguei-me refletindo diversas vezes sobre sua afirmação de que a vulnerabilidade é a base para a inovação, criatividade e, principalmente, mudança e sobre como isso fez sentido para mim quando olho para trás em minha própria história.

Durante minha vida, passei por diversos momentos que deixaram marcas profundas em minha personalidade e determinaram de forma distorcida a forma como eu me enxerguei por muitos anos. Na infância, eu era a criança que inventava as brincadeiras, criava histórias, organizava os teatros, escrevia livrinhos, enfim, como diz o meu primo-irmão, eu era a líder do bando de crianças com pé preto que não saiam da nossa casa.

À medida que fui crescendo, passei por muitas mudanças fisicamente, mudanças para as quais não estava preparada e, por não gostar da minha nova aparência, sentia-me muito insegura. Muito mesmo. Insegura ao ponto de não conseguir fazer a reposição de uma aula de desenho em outra turma sozinha, não iria se nenhuma amiga estivesse comigo.

A sensação de ser o centro das atenções me causava pânico, eu sentia vergonha por me achar “feia”, eu era uma pré-adolescente que estava completamente fora do que era considerado um padrão de beleza para meninas da minha idade em meu círculo social, por isso evitava me expressar em público, tinha pavor de fazer apresentações de trabalhos escolares (apesar de, modéstia à parte, performar bem) e sempre mantinha uma distância bem segura de gincanas e eventos similares.

Eu regredi de borboleta à lagarta e, quando eu vi, já era casulo.

Esse sentimento persistiu até o início da minha vida adulta. Eu me preocupava tanto com o que os outros pensavam de mim que todas as decisões que tomei até os meus quase 30 anos foram pensando em mostrar ao mundo do que eu era capaz.

Mas como eu poderia mostrar ao mundo do que ‘eu’ era capaz se esse ‘eu’ não era realmente ‘eu’, certo?

Apesar de ter me proporcionado uma ótima formação, eu detestei a faculdade de Direito com todas as minhas forças. Me sentia um peixe fora d’água e cheguei a sentir uma invejinha de uma das minhas colegas que abandonou o curso no segundo ano para fazer psicologia. Eu persisti nesse caminho por alguns anos, me esforcei de verdade para criar uma afeição pela profissão, me especializei, mas o que você faz com uma pessoa que preferia fazer desenhos ao invés de prestar atenção nas aulas de IED?

Na primeira oportunidade que tive de sair da área – no caso, de abrir uma empresa – me joguei de cabeça. Era tudo o que eu queria para meus vinte e poucos anos: usar meu conhecimento (arduamente adquirido) para ser uma empresária de sucesso, lógico!

Eu investi, literalmente, tudo o que eu tinha nessa empreitada, esgotei meu capital e minha energia. A empresa demorou para decolar e, quando saiu do chão, eu já não via mais sentido ou tinha qualquer motivação para mantê-la no ar. No meio desse caminho percebi que estava miseravelmente infeliz, porque tinha vivido toda minha vida, até então, para os outros e não para mim. Eu vivia a vida de uma pessoa completamente diferente do que sou em essência e demorei muitos anos para ter consciência disso.

Foi quando, sem saber de qualquer estudo ou teoria, me deixei ser vulnerável. Tive a coragem de assumir que a forma como estava conduzindo minha vida estava me transformando em uma pessoa estressada, amarga e infeliz.

A partir do momento que abracei minha vulnerabilidade, passei a me entender melhor e, com o tempo, a aceitar o que sou e a agir e me comportar como tal. Minha vida transformou-se desde então.

Carreira, relacionamentos pessoais e profissionais, já não tenho mais medo de me expor, de falar o que penso, da atenção das pessoas, ou dos desafios que virão pela frente – apesar de que realmente preciso trabalhar em minha assertividade, de acordo com meu último assessment.

Sinto-me mais aberta às oportunidades, mais disponível e mais livre para fazer as escolhas que fazem sentido para mim.

Vulnerabilidade não é fraqueza, não é derrota, vulnerabilidade é ter a coragem de assumir riscos emocionais e de ser transparente em um mundo onde as pessoas querem (ou precisam) fingir ser o que não são. Reflita sobre as mudanças que gostaria de fazer em sua vida e não tenha medo de ser vulnerável para alcançá-las.

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