Sobre o (pouco discutido) efeito da SOLIDÃO na performance em ambientes de trabalho

Rolando meu feed do LinkedIn, deparei-me com uma matéria sobre solidão no ambiente de trabalho elaborada com base em dados obtidos pelo Professor Sigal Barsade da The Wharton School of Business, Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, em um relatório intitulado “Workplace Loneliness and Job Performance”.

Publicado em dezembro de 2018, o estudo demonstra que a solidão no ambiente de trabalho não está relacionada à idade ou gênero, mas às visões e perspectivas do indivíduo. O estudo concluiu que quanto maior o sentimento de solidão, mais baixa a performance do colaborador e maior a probabilidade desse indivíduo ser afastado do trabalho por motivo de doença.

Demonstrou também, que os trabalhadores em um escritório são tão suscetíveis à solidão quanto aqueles que não precisam deixar o conforto de suas casas para executar suas tarefas diárias no modelo Home Office, tão apreciado hoje em dia.

Isso significa que as pessoas não precisam estar inseridas em um grande grupo de colegas para evitar sentirem-se sós, a ligação com apenas um deles seria o suficiente. É sobre qualidade e não quantidade.

Essas informações me fizeram refletir sobre a (quase inexistente) abordagem do assunto no ambiente organizacional e sobre minha própria caminhada profissional. Revisando alguns momentos, percebi que sofri desse mal em duas oportunidades até hoje, e me dei conta do quanto o sentimento negativo me afetou na época, não apenas profissionalmente, mas em minha vida pessoal. É difícil imaginar quantas pessoas devem sofrer com o problema atualmente e não tenham ideia de como lidar com ele, como eu não tinha.

Minha primeira experiência aconteceu no início da vida profissional, em um dos meus primeiros estágios durante o curso de Direito, em um escritório de advocacia que ficava próximo à faculdade. A segunda experiência aconteceu quando eu já havia me formado e estava trabalhando em uma empresa multinacional, em que fui enviada para realizar um projeto de outsourcing que duraria alguns meses, em uma outra empresa multinacional.

Em ambos os casos, cheguei a questionar intensamente minhas habilidades sociais e interpessoais, algo que cruzou minha mente pouquíssimas vezes em minhas (pouco mais de) três décadas de vida, ou seja, pode acontecer com qualquer um! Eu simplesmente não conseguia me “conectar” com as pessoas do grupo com quem estava trabalhando. O resultado? Sentimento de impotência, frustração, baixa performance, falta de interesse pelo trabalho e zero engajamento.

Segundo artigo publicado pela Harvard Business Review :

o “comportamento de solidão” no ambiente de trabalho, aumenta ainda mais o sentimento de isolamento da pessoa, perpetuando um ciclo de vigilância social que, por sua vez, gera afastamento, dificuldade de comunicação e colaboração, além de fragmentação da confiança. Tudo isso afeta negativamente não só a saúde do funcionário, mas do grupo e da organização como um todo.

A boa notícia é que as organizações podem (e devem) oferecer suporte para esses “solitários”, quando identificados. Em uma meta-análise de estratégias de intervenção para reduzir a solidão, pesquisadores descobriram que as intervenções mais efetivas estão relacionadas à cognição social, que pode ser entendida como as percepções tendenciosas que os solitários têm sobre como são vistos ou o baixo grau de confiança que tem em outras pessoas.

Por esse motivo, programas de estabelecimento de metas e desenvolvimento de estratégias para alcançá-las que focam em esclarecer as necessidades do indivíduo com relação à amizade, motivação e habilidades mostraram-se altamente eficazes, quando o acompanhamento era constante (afinal, soluções para dificuldades de relacionamentos não se formam magicamente, nem do dia para a noite).

Um outro ponto muito importante a considerar é o impacto que a cultura organizacional, por meio de seus valores e normas relacionados à expressão de emoções, causa nos colaboradores. Estudos demonstram que empresas com culturas emocionais fortes enfraquecem a existência de relações negativas no ambiente de trabalho, o que, obviamente, impacta positivamente na saúde do colaborador que será mais criativo, mais produtivo e mais engajado. Além disso, líderes que demonstram mais compaixão – tratar bem e interagir – pelos membros de sua equipe, também contribuem para a mitigação dos efeitos negativos ocasionados pela solidão.

O fato é que o isolamento acaba causando diversos impactos ruins em nossas vidas porque os seres humanos são seres sociáveis, nossa necessidade de conexão é primitiva. Ainda há muito o que descobrir e aprender sobre a solidão no ambiente de trabalho, mas é importante que todos, de colaboradores a líderes e organizações, estejam cientes sobre o assunto e saibam identificá-lo, porque a solidão não é uma questão meramente pessoal, ela gera repercussões organizacionais, e o caminho do conhecimento (e seu consequente aprimoramento) pode ser bastante árduo.

 

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