Como pessoas emocionalmente inteligentes resolvem seus problemas?

Imagem: Imagem: Mohamed Hassan via Pxhere

Independentemente de quem você seja, não direi nenhuma inverdade se eu afirmar que você tem problemas.

E a questão aqui não é entender como você escapa desses problemas, ou o que pode fazer para que eles desapareçam da sua vida, mas como lidar com cada um deles?

Seja qual for a sua resposta, ela provavelmente será a chave para quase todos os aspectos de sua vida, exceto se estivermos falando de qualquer método que inclua desprezo, defensiva, obstrução à solução ou terceirização da culpa.

Isso me lembra da época em que eu e minha família costumávamos almoçar, pelo menos uma vez ao mês, em um restaurante tipicamente coreano localizado no bairro da Aclimação, em São Paulo.

Eu sei que minha opinião é enviesada, mas para mim era o melhor restaurante de comida coreana de São Paulo. Era, no passado, pois infelizmente fechou as portas durante a pandemia.

O restaurante ficava em uma antiga casa, enorme. Ao entrar, passávamos por um corredor que contava a história do lugar através de diversos retratos, que variavam de fotos familiares a fotos com clientes famosos e não famosos. Ali, tinha também um freezer onde ficavam os sorvetes – principalmente “Melona” (só quem já experimentou sabe a delícia que é) – que eles costumavam vender no momento que o cliente ia pagar a conta.

Em um desses dias de almoço com a família, o restaurante estava cheio e nós, que costumávamos nos acomodar no andar térreo, fomos para o andar superior, onde ainda havia um pouco de espaço.

Sentamo-nos em um pequeno ambiente que lembrava uma “salinha”, com mesa baixa e assentos de bambu sem encosto, que vemos com mais frequência em restaurantes japoneses. Havia também uma estrutura, tipo um “biombo”, que dava mais privacidade às pessoas que estavam ali.

Nós comemos, conversamos com os simpáticos atendentes e com os educados e cordiais donos do restaurante, um senhor e seu filho. Quando finalizamos e estávamos aguardando a conta, lembro-me de inesperadamente ver o biombo tombando sobre uma parte da mesa e atingindo o meu pai, que estava sentado de costas para ele. Meu pai não se feriu, mas não podemos dizer o mesmo do seu celular…

Como estávamos compartilhando a sala com outras pessoas na mesa ao lado, não conseguimos ter certeza de quem possa ter acidentalmente provocado a queda, nós ou eles. Um movimento um pouco mais brusco de quaisquer das mesas poderia tê-lo derrubado.

Os donos do estabelecimento correram imediatamente para lá, ficaram extremamente sem graça e chateados com a situação.  Tranquilizaram-nos dizendo que iriam pagar um novo celular, mas meu pai não aceitou. Como o problema havia sido visivelmente apenas com a tela, ele disse que ele mesmo faria a troca, mas aceitou o valor equivalente em créditos a serem consumidos no restaurante.

O poder de se jogar e enfrentar seus problemas.

E por que estou lhe contando essa história?

Porque, para mim, é um daqueles exemplos perfeitos da escolha que você pode fazer quando está diante de um problema.

Enquanto lia sobre a queda do biombo, qual foi o primeiro pensamento que teve ao imaginar o que aconteceria a seguir:

a)      Nós nos levantamos da mesa, furiosos, nos recusamos a pagar a conta por causa do constrangimento e exigimos um novo celular; ou

b)     Os donos se recusaram a pagar pelo conserto do celular, nós ficamos furiosos e demos início a uma acalorada discussão, estragando o almoço dos demais presentes.

Para as duas partes, existiam duas opções: isentar-se do problema ou simplesmente resolvê-lo.

Se você o ignora, é possível que se livre dele no curto prazo, mas ele continuará existindo e pode piorar.

É o mesmo que subir em uma balança quando se quer fazer uma dieta, mas recusar-se a ver os números que ela aponta. Seus quilos estão ali, mas não os encarar tira um pouco do peso da responsabilidade que sentimos por termos engordado e pelo nosso emagrecimento.

Enterrar a cabeça na areia pode até ajudar em certo ponto, afinal, nos poupa de sentir aquele desconforto de quando estamos com medo – mas quando menos se espera, o problema se agrava.

Portanto, encare-os!

Diante de uma situação como a do restaurante, podemos imaginar o que se passou pela cabeça do dono naquele instante:

“OK. Aqui estou. Foi isso o que aconteceu e o cliente está bem. Acidentes acontecem. Deveríamos ter imaginado que esse biombo poderia cair. Mas foi o próprio cliente que o derrubou e a culpa não é nossa. Ainda assim, ele estava dentro do meu estabelecimento. Vou arcar com os prejuízos, isso nos levará a uma solução, eu provavelmente não perderei o cliente e ficarei em paz por saber que fiz tudo o que eu podia”.

Essa narrativa faz sentido para mim quando me lembro da forma como eles reagiram ao incidente.

Se esses donos simplesmente tivessem pensado que arcar com o conserto de um celular quebrado era prejuízo demais para o estabelecimento, afinal, a “culpa” do biombo ter tombado não foi diretamente deles, você consegue imaginar qual teria sido o desfecho dessa história?

Quando foi a última vez que você se dirigiu a si mesmo de forma crua e real, e assumiu a responsabilidade pela sua vida?

Quando você enfrenta o problema, constrói “músculos emocionais” que vão se desenvolvendo como resultado do seu estresse. Assim como quando vai à academia, começa a ver o resultado da sua rotina de exercícios depois de um tempo, e perceberá que identificar e gerenciar suas emoções se tornará uma tarefa cada vez mais fácil, o que reduzirá suas reações impulsivas.

Vai por mim: correr do problema só nos cansa ainda mais.

Existe algo de assustador na vulnerabilidade, mas é maravilhoso e libertador ser capaz de manter o peito aberto às circunstâncias e agir com senso de responsabilidade.

No final história, nós continuamos a frequentar o restaurante por muitos anos. Foi uma decisão “ganha-ganha”.

Eu sei que essa não foi a história mais emocionante que você já leu em um artigo de LinkedIn, mas são a partir desses pequenos casos que nos preparamos para enfrentar os grandes, aqueles que têm o potencial de mudar completamente a nossa vida.

Esteja preparado.