Como pessoas emocionalmente inteligentes resolvem seus problemas?

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Independentemente de quem você seja, não direi nenhuma inverdade se eu afirmar que você tem problemas.

E a questão aqui não é entender como você escapa desses problemas, ou o que pode fazer para que eles desapareçam da sua vida, mas como lidar com cada um deles?

Seja qual for a sua resposta, ela provavelmente será a chave para quase todos os aspectos de sua vida, exceto se estivermos falando de qualquer método que inclua desprezo, defensiva, obstrução à solução ou terceirização da culpa.

Isso me lembra da época em que eu e minha família costumávamos almoçar, pelo menos uma vez ao mês, em um restaurante tipicamente coreano localizado no bairro da Aclimação, em São Paulo.

Eu sei que minha opinião é enviesada, mas para mim era o melhor restaurante de comida coreana de São Paulo. Era, no passado, pois infelizmente fechou as portas durante a pandemia.

O restaurante ficava em uma antiga casa, enorme. Ao entrar, passávamos por um corredor que contava a história do lugar através de diversos retratos, que variavam de fotos familiares a fotos com clientes famosos e não famosos. Ali, tinha também um freezer onde ficavam os sorvetes – principalmente “Melona” (só quem já experimentou sabe a delícia que é) – que eles costumavam vender no momento que o cliente ia pagar a conta.

Em um desses dias de almoço com a família, o restaurante estava cheio e nós, que costumávamos nos acomodar no andar térreo, fomos para o andar superior, onde ainda havia um pouco de espaço.

Sentamo-nos em um pequeno ambiente que lembrava uma “salinha”, com mesa baixa e assentos de bambu sem encosto, que vemos com mais frequência em restaurantes japoneses. Havia também uma estrutura, tipo um “biombo”, que dava mais privacidade às pessoas que estavam ali.

Nós comemos, conversamos com os simpáticos atendentes e com os educados e cordiais donos do restaurante, um senhor e seu filho. Quando finalizamos e estávamos aguardando a conta, lembro-me de inesperadamente ver o biombo tombando sobre uma parte da mesa e atingindo o meu pai, que estava sentado de costas para ele. Meu pai não se feriu, mas não podemos dizer o mesmo do seu celular…

Como estávamos compartilhando a sala com outras pessoas na mesa ao lado, não conseguimos ter certeza de quem possa ter acidentalmente provocado a queda, nós ou eles. Um movimento um pouco mais brusco de quaisquer das mesas poderia tê-lo derrubado.

Os donos do estabelecimento correram imediatamente para lá, ficaram extremamente sem graça e chateados com a situação.  Tranquilizaram-nos dizendo que iriam pagar um novo celular, mas meu pai não aceitou. Como o problema havia sido visivelmente apenas com a tela, ele disse que ele mesmo faria a troca, mas aceitou o valor equivalente em créditos a serem consumidos no restaurante.

O poder de se jogar e enfrentar seus problemas.

E por que estou lhe contando essa história?

Porque, para mim, é um daqueles exemplos perfeitos da escolha que você pode fazer quando está diante de um problema.

Enquanto lia sobre a queda do biombo, qual foi o primeiro pensamento que teve ao imaginar o que aconteceria a seguir:

a)      Nós nos levantamos da mesa, furiosos, nos recusamos a pagar a conta por causa do constrangimento e exigimos um novo celular; ou

b)     Os donos se recusaram a pagar pelo conserto do celular, nós ficamos furiosos e demos início a uma acalorada discussão, estragando o almoço dos demais presentes.

Para as duas partes, existiam duas opções: isentar-se do problema ou simplesmente resolvê-lo.

Se você o ignora, é possível que se livre dele no curto prazo, mas ele continuará existindo e pode piorar.

É o mesmo que subir em uma balança quando se quer fazer uma dieta, mas recusar-se a ver os números que ela aponta. Seus quilos estão ali, mas não os encarar tira um pouco do peso da responsabilidade que sentimos por termos engordado e pelo nosso emagrecimento.

Enterrar a cabeça na areia pode até ajudar em certo ponto, afinal, nos poupa de sentir aquele desconforto de quando estamos com medo – mas quando menos se espera, o problema se agrava.

Portanto, encare-os!

Diante de uma situação como a do restaurante, podemos imaginar o que se passou pela cabeça do dono naquele instante:

“OK. Aqui estou. Foi isso o que aconteceu e o cliente está bem. Acidentes acontecem. Deveríamos ter imaginado que esse biombo poderia cair. Mas foi o próprio cliente que o derrubou e a culpa não é nossa. Ainda assim, ele estava dentro do meu estabelecimento. Vou arcar com os prejuízos, isso nos levará a uma solução, eu provavelmente não perderei o cliente e ficarei em paz por saber que fiz tudo o que eu podia”.

Essa narrativa faz sentido para mim quando me lembro da forma como eles reagiram ao incidente.

Se esses donos simplesmente tivessem pensado que arcar com o conserto de um celular quebrado era prejuízo demais para o estabelecimento, afinal, a “culpa” do biombo ter tombado não foi diretamente deles, você consegue imaginar qual teria sido o desfecho dessa história?

Quando foi a última vez que você se dirigiu a si mesmo de forma crua e real, e assumiu a responsabilidade pela sua vida?

Quando você enfrenta o problema, constrói “músculos emocionais” que vão se desenvolvendo como resultado do seu estresse. Assim como quando vai à academia, começa a ver o resultado da sua rotina de exercícios depois de um tempo, e perceberá que identificar e gerenciar suas emoções se tornará uma tarefa cada vez mais fácil, o que reduzirá suas reações impulsivas.

Vai por mim: correr do problema só nos cansa ainda mais.

Existe algo de assustador na vulnerabilidade, mas é maravilhoso e libertador ser capaz de manter o peito aberto às circunstâncias e agir com senso de responsabilidade.

No final história, nós continuamos a frequentar o restaurante por muitos anos. Foi uma decisão “ganha-ganha”.

Eu sei que essa não foi a história mais emocionante que você já leu em um artigo de LinkedIn, mas são a partir desses pequenos casos que nos preparamos para enfrentar os grandes, aqueles que têm o potencial de mudar completamente a nossa vida.

Esteja preparado.

3 técnicas de Inteligência Social que me ajudaram a fortalecer meus relacionamentos – e podem te ajudar também

Não importa se você acabou de mudar de empresa, se está em uma reunião com novos clientes, se é o primeiro dos seus amigos a chegar em uma festa ou se terá de enfrentar 4 dias de congresso sozinho pela frente. Independentemente de ser mais fácil para alguns ou mais difícil para outros, nós estamos constantemente nos relacionando com desconhecidos.

A sensação muitas vezes é estranha.

Você fala alguma coisa e espera apreensivamente para ver como o outro irá reagir, fica pensando se ter tocado em determinado assunto maculou sua imagem, torce para que aquela conversa não seja um completo fiasco e para que o outro não perceba seu nervosismo através das manchas vermelhas que costumam aparecer na sua pele.

A Inteligência Social é a capacidade que temos de avaliar e influenciar as emoções e relacionamentos interpessoais. Ela nos ajuda a quebrar o gelo no momento de uma abordagem e possibilita que pessoas e organizações fortaleçam a confiança entre si.

Contudo, a inteligência social costuma esbarrar nos famosos – e perigosos – erros de julgamento, também conhecidos como vieses cognitivos, que funcionam como pontos cegos quando se trata de relacionamentos.

Se pararmos para pensar que formamos uma imagem da pessoa nos primeiros 30 segundos em que a vemos, é muito importante lembrar de não nos deixarmos levar pelos primeiros pensamentos que cruzam a nossa mente.

Para evitar desperdiçar oportunidades e gerar animosidades injustificadas, podemos usar estratégias cientificamente comprovadas para conseguirmos identificar os nossos pontos cegos e superá-los. Veja algumas dicas:

ESCUTA EMPÁTICA

Quando as pessoas se comunicam com você, é necessário prestar atenção no que elas querem dizer e não apenas no que dizem. A empatia é a habilidade de entender o que as outras pessoas estão sentindo.

Por isso, não se concentre apenas nas palavras que escuta, mas também no tom de voz e nos movimentos corporais. Isso amplia a nossa capacidade de compreender o que o outro realmente quer dizer.

A escuta empática vai muito além do combo “sorriso, olho no olho, braços abertos e movimentos de concordância com a cabeça”.

Não se preocupe em se certificar se você está demonstrando empatia e interesse pelo outro, isso apenas desvia o seu foco do que realmente importa naquele momento: escutar ativamente de forma genuína.

ESPELHAMENTO

Reformular o que o outro está lhe dizendo, com suas próprias palavras, não apenas te ajuda a esclarecer se você efetivamente entendeu a mensagem, como demonstra ao outro que você está realmente ouvindo o que ele tem a dizer e dá a ele a chance de corrigir a informação se estiver errada.

Ex. “Então, você está dizendo que ________. Isso está certo?

Tente também utilizar os mesmos termos que o interlocutor utiliza, e espelhe seu tom e postura. Se ele está sendo formal, por exemplo, seja também.

Mas não tenha pressa, isso não precisa acontecer imediatamente, observe e se conecte gradualmente para construir um ambiente não ameaçador.

RAPPORT

O rapport estabelece a confiança entre você e a outra parte, criando um contexto de compreensão e harmonia, facilita a comunicação e consolida a conexão.

Para estabelecer rapport, você precisa ajudar o outro a sentir que você está do lado dele e que vocês estão na mesma sintonia. Para isso, esteja preparado e sem precisar declarar explicitamente, atente-se ao seguinte:

a. Expresse compaixão e cuidado em relação às emoções do outro;

b. Encontre pontos em comum entre seus objetivos e valores;

c. Use o humor – e não o sarcasmo ou ironia – quando pertinente, para ajudar a tirar o outro da defensiva.

Mudar o mindset de “eu sei tudo e não me importo com ninguém” para “eu posso efetivamente aprender algo novo ao conhecer melhor a outra pessoa” é essencial quando falamos sobre construir relacionamentos interpessoais duradouros.

E é também, definitivamente, uma das iniciativas relacionadas à inteligência social em que devemos investir pois, quando executada corretamente, confere mais confiança para nos comunicarmos abertamente a qualquer momento e se traduz em recompensas de curto, médio e longo prazo.

O que realmente nos torna resilientes?

Catorze anos atrás minha mãe foi diagnosticada com câncer de mama, doença que aflige e rouba a vida de muitas pessoas, principalmente mulheres, em todo o mundo. Ela tinha acabado de completar 50 anos e o meu irmão caçula, 11.

Lembro-me que, na época, tínhamos uma viagem de família marcada para o mês de julho. O diagnóstico foi realizado um mês antes. Ela guardou essa informação só para ela e viajou antes de iniciar seu tratamento como se nada tivesse acontecido.

Como ela conseguiu transparecer aquela plenitude, o tempo todo, durante 15 dias, eu até hoje não sei. E confesso que não consigo imaginar o medo, o desespero e a dor que ela sentiu por ter que enfrentar a situação sozinha, a fim de poupar o bem-estar de 5 filhos – 3 deles menores de idade – e um marido que ficava a semana toda fora de casa à trabalho.

Essa parte da história de vida da minha mãe é apenas um exemplo do que me faz refletir sobre a resiliência. Ela fez uma cirurgia, passou muito mal durante todo o período de quimioterapia, enfrentou um longo percurso de radioterapia, se “virou nos 30” com filhos pequenos e marido ausente, usou peruca por muito tempo e hoje está mais saudável e feliz do que nunca!

E então eu penso, será que todos nós temos essas reservas de força e tolerância? Quem dera se todos pudéssemos nos recuperar de todos os desafios mais fortes do que nunca!

O que é, afinal, a resiliência? Como podemos cultivá-la em nossas próprias vidas?   

 

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Em minha busca por respostas, encontrei 2 estudos realizados pelo pesquisador Marcus Buckingham e sua equipe do ADP Research Institute que demonstram que os níveis de resiliência não possuem qualquer ligação com gênero, idade, etnia ou nacionalidade, e têm 2 alavancas primárias que chegam a ser contraintuitivas:

1 – A resiliência é um estado de espírito causo pela exposição ao sofrimento.

Considerando como exemplo o cenário de pandemia, Buckingham afirmou que não importa quão eficaz determinado país tenha sido em sua resposta a ela, o que impulsionou os níveis de resiliência das pessoas foi o quão intimamente elas estiveram expostas à doença. Em outras palavras, isso sugere que descobrimos nossa resiliência quando somos obrigados a enfrentar um sofrimento inevitável.

2 – Quanto mais tangível a ameaça, mais resilientes nos tornamos.

Quanto maior o número de mudanças que somos forçados a absorver, mais convencidos ficamos de que elas serão permanentes, e mais a nossa resiliência aumenta.

Percebemos o quão resilientes podemos ser quando enfrentamos a realidade e somos capazes de enxergar quem nós realmente somos através da forma como respondemos a ela. Por mais incongruente que possa parecer, o que é real – quase sempre – é menos assustador do que o que é imaginado, por isso a realidade de uma doença ou de um desemprego acabam atuando como agentes fortalecedores, porque nos ajudam a compreender do que somos capazes.

Nós, humanos, não funcionamos bem quando somos privados da realidade. É mais prejudicial para a nossa saúde mental amenizar, subestimar ou ignorar realidades difíceis, porque acabamos permitindo que a nossa imaginação – que é bastante fértil – voe solta e descoordenada como folhas ao vento.

Além disso, esse tipo de atitude não contribui com o controle ou redução do nosso medo e ansiedade, ao contrário, nos impede de projetar formas saudáveis de lidar com os reveses, aumentando as emoções negativas.

O psicólogo Viktor Frankl, autor do maravilhoso livro “Em busca de sentido”, já dizia na década de 1930:

“Nossa resposta ao sofrimento inevitável é uma das fontes primárias de significado, propósito e autoeficácia em nossas vidas. O sofrimento e a dificuldade nunca devem ser escondidos de nós. Ao invés disso, mostre-os com honestidade e clareza e revelaremos – para nós mesmos e para você – nossa maior força”.

Não tem como ser mais claro e objetivo do que isso sobre um assunto tão complexo!

A espera nos apavora, mas quando sabemos o que iremos enfrentar, podemos avaliar e entender a melhor forma de viver diante de tais circunstâncias. Minha mãe conseguiu fazer uma viagem de vários dias carregando o peso de sua doença porque tinha um diagnóstico concreto e sabia quais seriam os próximos passos que teria que dar no combate à doença assim que retornasse.

E, por mais difícil que seja, isso nos dá a chance de viver com as melhores condições que temos naquele momento, nos dá resiliência!

Os resultados das pesquisas sugerem que essa teoria não se aplica apenas à casos como os de minha mãe, mas também a você e a mim, independentemente da mudança pela qual esteja passando.

Quando eu era criança, os adultos costumavam falar sobre o “homem do saco” para assustar crianças desobedientes, dizendo que ele as levaria para longe de seus lares. Esse “homem” sequer tinha um rosto para nós, mas o imaginário nos assombrava.

É o desconhecido que nos assusta!

A coragem de encarar a verdade e enfrentar a realidade – não a sua realidade – pode ser uma inesgotável fonte de resiliência!

Em busca do bem-estar estamos nos adaptando a uma sociedade doente

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Historicamente, o conceito de bem-estar começou a ser cunhado no século 17, e estava ligado apenas à saúde física, era praticamente sinônimo de “ausência de doenças”.

No século 18, o conceito passou a ser atrelado à bens materiais que supriam as necessidades básicas de limpeza e higiene que impactavam a saúde das pessoas naquela época.

Atualmente, a percepção sobre bem-estar e saúde tornou-se muito mais ampla, e envolve os aspectos mental, emocional, físico e social.

Eis que me deparei com a seguinte questão: o que “bem-estar”, afinal? Como as pessoas alcançam o bem-estar?

Naquele momento, eu recorri ao Google nosso de cada dia, claro!

E eu posso te dizer que muitos dos manuais de “bem-estar” disponíveis na internet irão te dizer que para alcançá-lo, precisamos:

1 – Fazer escolhas simples e saudáveis diariamente;

2 – Reduzir o estresse; e

3 – Ter interações sociais positivas.

Parece mesmo muito simples.

Agora, quando desligamos o computador e temos que encarar a realidade, a situação é um pouco mais complicada. Hoje, nós somos tão “pressionados” a ter uma vida saudável e feliz, que a preocupação deixou de ser com o bem-estar em si, e passou a ser com o fato de que a saúde é tratada como uma ideologia.

Quando afastamos o “bem-estar” da ideia geral de “nos sentirmos bem”, e transformamos o conceito em algo que devemos fazer para viver de maneira verdadeira e feliz, ele assume um novo significado e passa a ser uma obrigação moral.

Vou dar um exemplo bem simples: durante muito tempo, em um passado recente, eu usei um relógio que, dentre outras funções, contabilizava todos os passos que eu dava em um dia. Eu tentava dar, pelo menos, 8 mil passos por dia, mas achava 10 mil passos o ideal (simplesmente porque é um número redondo).

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Depois, entrava no aplicativo do relógio, no celular, que comparava meus dados com os de outros usuários do mundo inteiro e eu ficava mal quando via que não tinha caminhado mais do que 80% das pessoas. Sentia-me preguiçosa e fracassada por não ter conseguido executar uma atividade tão simples, mesmo sabendo que aquilo era um exagero. E eu agia da mesma forma todos os dias.

E essa obrigação moral de sermos saudáveis e felizes, da qual somos cansativa e constantemente lembrados, foi batizada pelos pesquisadores Carl Cederstrom e Andre Spicer, autores do livro “The Wellness Syndrome”, de biomoralidade.

lógica da biomoralidade é a seguinte: ela te dá uma sensação meio presunçosa de dignidade, fazendo você pensar que está do lado certo de uma suposta ‘lei moral’. Te faz pensar que se as pessoas fossem mais como eu, você – ou como a Gisele Bundchen – o mundo seria um lugar muito melhor, mais saudável, mais feliz.

Vocês devem se lembrar de uma situação que aconteceu cerca de 3 anos atrás, em que uma modelo da Playboy foi condenada nos Estados Unidos por divulgar e ridicularizar, no Snapchat, a foto do corpo de outra mulher, nua, no banheiro de uma academia.

Dani Mathers, então com 29 anos, compartilhou duas imagens: uma da mulher, que é idosa, e tinha 70 anos na época, e uma segunda em que ela ri e faz cara de nojo, de deboche.

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“Se eu não posso ‘desver’ isso, você também não pode”, foi a legenda que a modelo colocou em cima da imagem da mulher nua.

É claro que ela foi alvo de muitas críticas na internet por ter praticado body shaming, foi condenada pela justiça do estado da Califórnia, demitida de seu emprego em um programa de rádio, e teve a entrada nessa rede de academias permanentemente proibida.

Mas o principal problema dessa história é que esse tipo de mentalidade não é exclusivo dela.

Nós somos constantemente encorajados a ter nojo do corpo das pessoas que não seguem o “padrão”, e como se não fosse ruim o bastante, somos encorajados a sentir nojo do que as pessoas comem.

Na verdade, comer se tornou uma atividade paranoica. O ato de comer não se destina mais a proporcionar prazeres momentâneos ou de felicidade com pessoas queridas em volta de uma mesa.

“Comer” coloca sua identidade à prova.

Pense, por exemplo, no que você costuma pedir no restaurante quando está fazendo uma reunião com o cliente durante o almoço.

Ou no que você come quando sai pela primeira vez com aquela pessoa que tanto queria.

Você pede o que realmente quer comer ou o que você acredita que transmitiria uma imagem sua melhor?

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Hoje, comer de forma correta tem sido associado ao caminho para uma vida próspera, é uma conquista, demonstra para a sociedade uma superioridade no que diz respeito a “viver bem”.

Essa insistência de que o indivíduo é capaz de escolher seu próprio destino, supondo que temos 100% de controle sobre nossas próprias vidas, mesmo quando as circunstâncias não estão a nosso favor, acaba provocando sentimento de culpa e ansiedade.

Pesquisas revelam que as pessoas fazem dietas muito mais com a intenção de aliviarem o sentimento de culpa que elas carregam, do que para perder peso.

Você é responsável pelo seu emagrecimento e pelo seu bem estar? Sim. Mas é o único responsável? Não. 

Em tempos como estes, em que a imagem ocupa um papel crucial na sociedade, distinguir o que é real do que não é está cada vez mais difícil. Nossa obsessão com a busca superficial pela felicidade destruiu nosso relacionamento com o que é real.

Na minha humilde opinião, quando as pessoas não acreditam mais na transformação política, não acreditam mais que o mundo pode ser mudado para melhor, elas colocam todas as suas energias em querer melhorar a si mesmos.

Cria-se uma espécie de entusiasmo ingênuo em tornar nossas vidas melhores, através do que seria a melhoria do nosso estilo de vida imediato.

Existe a expectativa de que façamos cada vez mais e mais e mais, não importa o que, e para que estamos fazendo, o que acabou transformando a busca por aperfeiçoamento pessoal em uma corrida maluca, que é vista como um comportamento normal pela sociedade!

Acompanhar obsessivamente o nosso bem-estar, enquanto continuamente encontramos novos caminhos de autoaperfeiçoamento deixa pouco espaço para viver.

Há uma crença bastante enraizada na sociedade de que se a maioria sente, acredita ou faz, então é “normal”. E, então, serve de guia para o comportamento geral. O problema é que nem todas as normas são benevolentes.

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Mas será que é normal achar normal o que não deveriam ser…normal?

É saudável e importante preocupar-se em querer melhorar.

E não há nada de errado em estar bem ou querer estar bem, mas se conhecer e ser bem informado é completamente diferente de aderir ao espírito de rebanho, em que se age de forma automática e inconsciente.

Como dizer ao seu parceiro que você precisa de “um tempo só para você”.

Esses dias recebi o telefonema de uma amiga que queria conversar, porque o seu parceiro tinha acabado de fazer as malas e sair de casa. Escutei a história com o coração despedaçado por ela. Já há alguns meses eu vinha acompanhando a valsa descompassada dos dois e as muitas tentativas dela de fazê-lo se abrir e ser transparente, pois a falta de comunicação e confiança estava claramente afetando a relação entre eles.

O longo caminho que ela percorreu na tentativa de fazer o casamento melhorar foi desgastante, e ao falar com ela era possível sentir a falta de esperança em sua voz.

Durante esta crise, tenho escutado diversas narrativas de casais desabafando sobre a dificuldade de gerenciar os relacionamentos, que – sem intenção nenhuma de fazer chacota – são basicamente variações de “se nós não ficarmos em cômodos diferentes em casa vamos nos matar”.

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Estar juntos 24 horas por dia não está sendo uma tarefa tranquila para muitas pessoas, principalmente porque, impossibilitados de sair, acabamos não conseguindo ter um “tempo para nós”. Eu, que sou introvertida, aprecio e preciso ter os meus momentos ‘sozinha’, mas há quem não goste ou não consiga ficar sozinho.

Minha amiga, em meio a todo o seu sofrimento, optou por mergulhar de cabeça no trabalho, na resolução de problemas familiares, e simplesmente ignorou todas as suas necessidades pessoais.

Contudo, se não nos reenergizamos constantemente, uma hora ou outra atingimos o nosso limite, e então o tempo que levamos para recarregar as baterias acaba sendo muito maior.

O interessante é que maioria das pessoas se esquece do princípio básico:

“Coloque a sua máscara antes de ajudar a outra pessoa”. 

Mesmo quando temos consciência da importância de dedicarmos parte do nosso tempo à nossa saúde física e mental, a tarefa de comunicar nossas necessidades pessoais aos nossos parceiros pode não ser tão simples assim, muitos acabam se vendo diante de uma muralha de sentimentos de culpa e vergonha, sem ideia de como farão para escalá-la e chegar ao outro lado.

Fonte: Giphy

Para evitar que os efeitos da falta de comunicação, acompanhados de ressentimento e exaustão, recaiam sobre o seu relacionamento, em primeiro lugar, saiba o que você precisa.

Isso pode parecer óbvio, mas não é incomum confundirmos o que precisamos, com o que queremos, e existe um espaço enorme entre os dois verbos.

Reserve alguns minutos do seu dia para colocar no papel quais atividades lhe trariam maiores benefícios, sinta e deixe a sua mente fluir, não pense demais. No meu caso, quando se trata de relaxar, me imagino em uma casa no campo, em um dia ensolarado, sentada em uma poltrona confortável ao ar livre, bebendo um bom vinho e lendo um bom livro.

Mas é claro que, além dessa, existem muitas outras opções mais viáveis que podemos considerar, simplesmente me sentar no sofá por alguns instantes no final do dia para ler um livro já é bastante relaxante para mim, por exemplo.

A minha dica é:

Mesmo que bata aquele sentimento de culpa quando considerar que gostaria de fazer uma aula de violão para espairecer e ter um momento de autocuidado, faça, teste, veja se isso lhe traz emoções positivas.

Depois de pensar com cuidado em como gostaria de passar o seu tempo pessoal, pense em como você conduzirá a conversa com o seu parceiro.

O momento ideal não existe…escolha o melhor momento.

O melhor momento não é aquele em que a pessoa acabou de finalizar o dia de trabalho, está dando comida às crianças ou colocando-as para dormir. Por mais que a sua ansiedade te torture, contenha-se e inicie a conversa quando vocês estiverem em um momento mais relaxado.

Lembrando que a intenção não é desafiar a outra pessoa, mas conectar-se a ela, faça disso um momento leve e de descontração entre vocês.

Nunca se esqueça de que vocês jogam para o mesmo time, ok?!

Você está ao lado do seu parceiro para que se apoiem, se impulsionem, se ajudem, cresçam e se desenvolvam juntos, e o cuidado com a saúde um do outro também deveria entrar nesse “pacote”.

Isso significa que não faz sentido você iniciar a sua conversa culpando-o de algo ou fazendo críticas, esse tipo de postura apenas o colocará na defensiva. Diga o que você está sentindo, o que tem em mente e pergunte o que ele pensa a respeito.

Simplesmente escute, não é tão difícil assim.

Eu sempre digo a quem eu posso: seja ouvinte quando está na posição de… ouvinte! Se você, teoricamente, está escutando o que a outra pessoa tem a dizer, não faz o menor sentido você ficar pensando no que vai dizer em seguida enquanto ela ainda está falando!

Ou você está dando a sua atenção ou não está.

E se você não escuta TUDO o que a pessoa tem a dizer, a comunicação fica prejudicada e as chances de a conversa não terminar bem aumentam significativamente.

Estamos aqui falando sobre dar e receber, não se esqueça disso.

Ok. Você quer alguma coisa, mas tem que estar disposto a ceder um pouco também. E todos sabemos que, na prática, não é bem isso o que acontece.

A resposta à questão é simples: falta de empatia.

Se você está sentindo a necessidade de ter um tempo para você, é bastante provável que o seu parceiro esteja sentindo o mesmo, por isso considere pensar em atividades que possam fazer bem a ele, das quais ele desfrutaria.

Assim, você pode integrá-lo à sua conversa, mostre que também pensa em seu bem estar e o considera quando faz planos.

Acredite, fazer check ups nos seus relacionamentos são tão efetivos quanto qualquer outro check up

Verdade seja dita: nenhum relacionamento interpessoal é tão simples quanto parece, especialmente quando adicionamos um toque de intimidade a ele.

Quantas vezes você pergunta ao seu parceiro como ele está se sentindo?

Reservar um momento para fazer esse tipo de interação é essencial para manter a conexão e comunicação entre o casal. Não estou dizendo que você precisa agendar uma vez por semana para fazer isso, mas façam sempre que tiverem a oportunidade, nunca deixando um espaço muito grande entre uma conversa e outra.

Eu sempre prezei pela comunicação em meus relacionamentos, com o meu marido eu pratico isso há 10 anos. Quando nos conhecemos ele era muito fechado, para conseguir discutir qualquer coisa com ele eu levava mais de uma semana e esse comportamento começou a nos prejudicar, porque “arrastar” os problemas tornou-se desgastante.

E para conscientizá-lo, eu mostrei a ele que aquela configuração não estava funcionando. Veja bem, eu não briguei, não gritei, não xinguei, simplesmente fui mostrando, em doses homeopáticas e com empatia, as consequências que o seu silêncio estava provocando.

O processo foi difícil? Sim.

Eu sofri no início, no meio e no final? Sem dúvidas.

Demorou? Com certeza, pois estamos falando de mudanças de hábitos.

Mas como eu sempre soube o motivo pelo qual estou com ele, eu não tive preguiça de me dedicar, mas sabia que me arrependeria se não tentasse.

Por mais acostumados que a gente esteja de se comunicar de determinada maneira, e cogitar em fazer qualquer mudança pareça ser algo inconcebível, é possível incorporar novos comportamentos se estivermos inclinados a nos desenvolver, sermos melhores e viver uma vida mais tranquila.

Mudar exige muito de nós, mas sempre que pensar em desistir, lembre-se de que dentro de um ano você estará se comunicando: ou como sempre se comunicou, ou de forma mais empática e clara, e terá afastado de você qualquer dinâmica negativa que estivesse ao seu redor. Vale a reflexão.