O que aprendi com o CEO da Azul sobre liderança durante um voo

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No dia 11 de dezembro de 2019 embarquei com meu marido no voo AD2521 da Azul, de São Paulo para Fortaleza, era o início das nossas tão esperadas férias de verão. Como o voo saia às 6 horas e 40 minutos de Guarulhos, tivemos de nos levantar às 4 horas da manhã, e o resultado disso foi um estado de sonolência de nível gestacional, que me deixou determinada a dormir durante todas as 3 horas e 30 minutos de voo.

Assim que chegamos aos nossos assentos vimos que um deles já estava ocupado por outra pessoa, que não estava no lugar errado: o sistema de check-in havia gerado duplicidade de assentos, aparentemente algo bastante comum em viagens aéreas nos dias de hoje. Chamamos a comissária de bordo que chegou com uma energia vibrante, foi super atenciosa conosco e conseguiu nos remanejar para outros dois assentos um ao lado do outro, poucos minutos depois, em um voo lotado.

Sentamo-nos no novo local designado, recostei-me no ombro do meu marido e me preparei para tirar um cochilo, e sim, eu geralmente adormeço antes mesmo do avião decolar. Quando estava pegando no sono um homem com traços bem caucasianos, de estatura média e um sotaque bastante carregado, pegou o microfone da aeronave para se apresentar e chamou a atenção de todos quando disse a palavra “presidente”.

John Rodgerson, presidente da Azul Linhas Aéreas Brasileiras há 10 anos, estava a bordo e, em um discurso sucinto e objetivo, nos desejou boa viagem e colocou-se à disposição dos presentes para tratar quaisquer demandas que tivéssemos sobre a empresa. Durante o voo, ele passou de fileira em fileira e falou com cada um dos passageiros, perguntando se estávamos bem, se tínhamos alguma reclamação e se estávamos sendo bem tratados. Não vou negar que essa atitude me causou surpresa no início, mas gerou uma sensação muito agradável posteriormente. Ficou bastante claro que, para aquele CEO, a competência “foco no cliente” estava sendo plenamente exercitada.

Como estávamos sentados na última fileira do avião, quando terminou de conversar conosco voltou-se para as duas comissárias de bordo que estavam naquela parte de trás e engajou em uma breve, mas agradável conversa com elas. Não era minha intenção ouvir a conversa, claro, mas não tinha como evitar dada a proximidade em que estávamos.

Ele iniciou o diálogo agradecendo-as pelo serviço que estavam prestando e por trabalharem com tanta dedicação. Em seguida, disse que a Azul apreciava muito o trabalho que elas exerciam lá e que elas eram essenciais para a organização. Então, assim como fez com todos os passageiros, questionou-as se tinham alguma reclamação a fazer, e se gostavam de trabalhar na companhia. Elas responderam que estava tudo bem, que gostavam de trabalhar para a empresa e agradeceram sua atenção e preocupação, tudo isso em meio a risos e pequenas brincadeiras. Reconhecimento e incentivo nota 10!

John Rodgerson então percorreu todo o caminho de volta pelo estreito corredor e sentou-se na parte dianteira da aeronave, onde provavelmente permaneceu durante toda a viagem.

E eu acabei não conseguindo dormir porque a atitude do senhor Rodgerson disparou um gatilho em minha mente e eu não parei de pensar sobre sua postura, seu comportamento, e sobre como ele havia demonstrado, em menos que uma hora, diversas das competências tidas como essenciais para um verdadeiro líder nos dias de hoje. O foco estava nas pessoas.

Para se ter uma referência, pesquisa conduzida por Sunnie Giles e publicada pela Harvard Business Review em 2016 revelou as 10 competências mais apreciadas em um líder. São elas:

      1. Ter padrões éticos e morais elevados;
      2. Traçar metas e objetivos sem diretrizes rígidas;
      3. Comunicar suas expectativas claramente;
      4. Ter a flexibilidade de mudar de opinião;
      5. Comprometer-se com o treinamento de sua equipe;
      6. Comunicar-se frequente e abertamente;
      7. Manter-se aberto a novas ideias e abordagens;
      8. Gerar um sentimento de sucesso e fracasso conjunto;
      9. Contribuir com a formação de novos líderes; e
      10. Proporcionar um ambiente de trabalho seguro para tentativas e erros.

Eu sempre procuro extrair o lado positivo de cada uma das situações a que sou exposta e, neste caso, vi com meus próprios olhos o que uma boa liderança pode fazer por uma empresa. Mesmo que meu exemplo tenha sido limitado a uma única situação, entendo que ela consegue demonstrar quais devem ser as atitudes de um líder e reforçou minha crença de que criar um ambiente de trabalho melhor, mais seguro e saudável através da adoção de determinados comportamentos é possível.

Para mim, a atitude gentil e atenciosa da comissária que descrevi no início do texto fez ainda mais sentido quando percebi que todos os comissários naquele voo apresentavam comportamentos semelhantes, de modo que foi impossível ignorar o fato de que a cultura corporativa é um dos ativos mais importantes de uma organização, mas que, infelizmente, tende a ser um dos mais deficientes.

A definição da cultura começa no topo da pirâmide corporativa, e vai atingindo os demais níveis em um efeito cascata: os comportamentos são replicados pelos gestores até atingirem todos os colaboradores. E cada vez mais a sociedade e o escrutínio dos investidores e reguladores exigem que os CEOs assumam a responsabilidade pelas culturas adotadas nas organizações que encabeçam. Esse processo pode até soar simples, mas é um dos mais difíceis de implantar em uma empresa, principalmente as de grande porte, como a Azul.

Quando os líderes demonstram comprometimento com o crescimento dos funcionários e da empresa, despertam sentimentos primordiais nas pessoas. Elas sentem-se motivadas a retribuir, expressando sua gratidão ou lealdade indo além do que se espera delas. Se você quer extrair a melhor performance de sua equipe, esteja ao lado dela, dê apoio a ela e levante sua bandeira.

O descontentamento é o primeiro passo para o desenvolvimento

Rolando o feed do Instagram esse fim de semana, vi o post de uma digital influencer russa, chamada Miroslava Duma, em que com uma foto dela (sempre) elegante comentou brevemente sobre sua mudança de vida após ter sido diagnosticada com uma doença rara no pulmão no início deste ano. Os médicos haviam dado a ela apenas 7 meses de vida na época. Na publicação, ela fala sobre ter “parado de correr a maratona” e percebeu o quanto queria continuar vivendo com as pessoas que ama.

Ela diz que pela primeira vez ela “notou o azul do céu e o lindo verde das árvores”, confessou que passou toda a sua vida tão obcecada por obter “curtidas” física e digitalmente, que acabou vivendo anos que descreveu como sendo cheios de “autocríticas e dúvidas, estresse, dietas, forçando seu organismo até seu sistema imunológico colapsar”.

Hoje, aos 34 anos, ela parou de medir seu sucesso por indicadores externos, e passou a considerar o que carrega dentro de si como sendo mais importante.

Coincidentemente, no mesmo dia, coloquei meu podcast para tocar enquanto preparava o almoço e o assunto que se discutia era bastante similar, o que chamou minha atenção. Tratava-se de uma entrevista com o diretor de cinema Tom Shadyac, que ficou famoso por escrever e dirigir as comédias Ace Ventura: Pet Detective, O Professor Aloprado, O Mentiroso e Bruce Almighty.

Na entrevista, Shadyac narra seu processo de mudança de vida após sofrer um acidente de bicicleta que quase o matou. Ele abandonou uma vida materialista para viver uma vida simples, de acordo com seus valores, em um trailer, e afirma que é mais feliz hoje do que jamais havia sido em seus tempos de luxo e ostentação.

É triste perceber, através de histórias como essas, que algumas pessoas buscam uma significativa mudança de vida apenas após passarem por uma situação intensa ou traumática, situação que as fazem parar o ritmo frenético do dia a dia, que as fazem valorizar e entender a fragilidade da vida e a refletir sobre quem elas são, o que elas querem, o que faz sentido para elas.

Essa mudança nada mais é do que o exercício do autoconhecimento, de entender o que você valoriza e prioriza, é sobre mudar crenças que limitam suas ações e o impedem de seguir adiante.

Trata-se de dar valor ao tempo, ao seu tempo, que é o bem mais precioso que nós temos. Cada minuto que vivemos uma vida que não queremos, é um minuto a menos de uma vida que poderia nos trazer mais sentido, propósito e satisfação.

Eu, Lúcia, passei por um processo de desenvolvimento pessoal quando percebi que meu jeito estressado e grosseiro estava me afastando das pessoas que eu amava e prejudicando meus relacionamentos. No meu caso, um término de relacionamento bastante doloroso acabou me forçando a essa reflexão. Hoje, penso no tempo que eu perdi vivendo uma rotina e nutrindo comportamentos que só me faziam mal, mas agradeço por ter descoberto isso cedo o suficiente, o que me impediu de construir uma vida inteira pautada em uma mentira.

E utilizo a palavra “mentira” por se tratar de um ato de enganar, de se enganar, acreditando que determinada vida faz sentido para você quando não faz. Viver no piloto automático torna-se um hábito e hábitos são difíceis de mudar, requerem muita força de vontade, dedicação e principalmente paciência. Requerem que um investimento seja feito, literalmente, em você, requerem tempo para pensar e refletir, requerem momentos de ócio. Inclusive, o ócio parece ter sido proibido pela própria constituição atualmente, de tão rechaçado.

Mas a agenda está lotada, a vida está “uma correria”, as pessoas não têm tempo para pensar nessas coisas hoje em dia, não é mesmo?!

Se você tem pelo que viver, suportará qualquer como

E se tudo o que possui fosse tirado de você?

Em setembro de 1942, Viktor Frankl e toda sua família foram enviados para o campo de concentração da Alemanha nazista. Ao final da guerra, apenas ele e sua irmã haviam sobrevivido. Posteriormente, ele escreveu um livro inspirador sobre sua dramática experiência durante os anos que passou por quatro diferentes campos de concentração, em que explicou, como neuro psiquiatra, e refletiu, como ser humano, sobre os motivos que o mantiveram vivo todo esse tempo.

Como interno, Frankl observou que os prisioneiros mais fortes e resistentes eram aqueles que viviam por alguém ou alguma coisa, de forma que a motivação que tinham para agir – sobreviver, nesse caso – decorria do significado que essas pessoas ou coisas tinham em suas vidas. Alguns ativeram-se ao humor, outros à natureza, outros cantavam e dançavam durante seus breves períodos de descanso, e outros viviam do amor que sentiam por seus entes queridos, imaginando conversas, e revivendo bons momentos junto a eles. Frankl, por exemplo, tinha muitas conversas com sua esposa no dia a dia e uma tese importante para finalizar do lado de fora.

“Tudo pode ser tirado de um homem, mas uma coisa: a última das liberdades humanas – escolher a atitude em qualquer conjunto de circunstâncias, escolher o próprio caminho.”  Viktor Frankl.

No campo de concentração, a capacidade de decidir por si recebeu um significado totalmente novo. A liberdade de escolha limitou-se à vida ou à morte, o que deixava muitos dos presos apreensivos e com medo de tomar pequenas decisões que poderiam garantir sua sobrevivência. Os prisioneiros mais fortes, que optaram encontrar um motivo pelo qual viver, tentaram, na medida do possível, viver de acordo com seus próprios valores e manter as mais ínfimas das liberdades, aproveitando qualquer oportunidade para tomar decisões.

“Quem tem pelo que viver pode suportar quase qualquer como”. Nietzche.

É claro que essa situação é bastante específica e extrema, mas a intenção é justamente demonstrar que não importa o que aconteça, e considerando as limitações de cada contexto, você sempre terá a liberdade de ser quem você realmente é, e agir da forma que você escolher, independentemente das circunstâncias. Mesmo quando estiver passando por um sofrimento do qual não tenha saída, sempre será possível escolher a forma como irá encarar esse sofrimento.

Você pode pensar:

      1. “Isso é muito difícil. Não vou conseguir”; ou
      2. “Isso é muito difícil, mas eu sei que posso me esforçar mais”.

A segunda opção lhe levará mais longe. Por quê? Porque a primeira opção é derrotista, enquanto a segunda é otimista e inquiridora de possibilidades. A vida nos dá, a todo momento, pequenos e grandes problemas para gerenciar, sejam eles uma fadiga durante uma corrida matinal, ou uma tragédia que mudará sua vida, mas o modo como responderemos a elas é uma decisão interna, e apenas nossa.

“O que é, então, o ser humano? É o ser que sempre decide o que ele é. É o ser que inventou as câmaras de gás; mas é também aquele ser que entrou nas câmaras de gás, ereto, com uma oração nos lábios”.

Para que seja possível seguirmos em frente, precisamos aprender a aceitar o que acontece conosco de forma realista e honesta, para que possamos então entender o poder que temos de responder àquilo. Seus valores, suas crenças e suas atitudes são seus e somente seus, nada no mundo – lei, autoridade ou circunstância – poderá tirá-los de você. Pense nisso. Escolha ver a luz nos dias mais sombrios.

A humanidade, as mídias sociais, o distanciamento das próprias questões humanas e o declínio da saúde mental

Esta semana iniciou-se com a trágica notícia de que a jovem sul coreana Choi Jin-ri, mais conhecida como Sulli, tirou sua própria vida no domingo. Ela era atriz, cantora de K-pop, tinha 25 anos, mais de 6 milhões de seguidores no Instagram e é a mais recente vítima da depressão causada pelo uso das redes sociais.

Apesar de ter raízes coreanas e simpatizar com as músicas dos mundialmente famosos grupos de K-pop, não sou fã do gênero e não acompanho as notícias sobre eles, mas a morte de Sulli despertou minha atenção pelo fato de não ter sido um caso isolado. Senti-me como se ontem mesmo tivesse lido a mesma notícia, e isso me incomodou. Muito.

De acordo com dados da OMS, a Coréia do Sul tem a segunda maior taxa de suicídios do mundo. Em comparação com outros países desenvolvidos, o grupo social que mais concentra casos de suicídio são os idosos, ocasionados, em sua maioria, pelo baixo nível socioeconômico.

Apesar de significativamente menor, o nível de suicídio entre os jovens também é considerado alarmante, mas diferente dos idosos, o alto nível de estresse, falta de sono, uso de álcool e tabagismo são os principais causadores de suicídios entre adolescentes e jovens adultos no pequeno país.

Sulli iniciou sua carreira como atriz mirim em 2005, e de 2009 a 2014 foi uma das cantoras do grupo f(x), que foi forçado a um hiato em sua trajetória por ser alvo constante de comentários de ódio na internet.

A jovem, inclusive, já havia desabafado nas redes questionando os seguidores sobre o motivo pelo qual ela recebia tantas mensagens negativas. No dia 13 de outubro de 2019 ela atingiu seu limite pois, infelizmente, a depressão foi mais forte do que ela.

O caso da jovem sul coreana é apenas mais um dentre tantos outros que ocorrem diariamente. O julgamento que vem da sociedade na qual estamos inseridos parece demonstrar que estamos nos tornando cada vez mais ineptos para lidar com questões humanas!

Sim, paradoxal, eu sei.

Muito se discute, por exemplo, sobre como a internet acaba sendo uma “proteção” para a disseminação de discursos de ódio, mas mais do que isso, a internet está nos afastando cada vez mais dos nossos relacionamentos interpessoais. O resultado disso é a evidente falta de empatia que, consequentemente, gera um afastamento abismal do conceito de perspectivas múltiplas da realidade.

Por não estarem frente a frente, o ofensor disfere seus golpes verborrágicos contra o ofendido como se estivesse falando com algo inanimado, com a própria máquina. As pessoas são julgadas por sua aparência, por uma fofoca, por notícias falsas ou por ter tirado uma fotografia com um fundo amarelo que não combinou com sua roupa laranja e o sapato azul. Parece que atingir negativamente as pessoas alimenta um sentimento de vitória, superioridade ou bem-estar.

Agora, pensem em uma situação como essa iniciada no mundo digital e transporte-a para fora, para um local público, por exemplo. Será que o ofensor teria coragem de maldizer o ofendido, da mesma forma, diante de tantas outras pessoas? Será que, se o ofensor parasse por dois segundos e se colocasse no lugar da vítima, ouvindo todas as suas provocações, ele daria continuidade ao ato ofensivo? Os comportamentos seriam os mesmos?

Causar mal-estar a outrem através das mídias sociais passou a ser visto como um problema quando se tornou um “padrão comportamental”, pois padrões não são simples de mudar, requerem muita reflexão, e principalmente, muita ação. Você até pode ser um ativista contra maus-tratos de animais e fazer coisas louváveis pela causa, mas se ao mesmo tempo denigre a imagem daquele seu amigo no Facebook porque ele pensa diferente de você ou faz comentários maldosos sobre a foto do outro no Instagram porque ele tem um corpo diferente do seu, está na hora de parar para rever a forma como suas atitudes estão refletindo seus verdadeiros valores.

Eu costumo dizer que não devemos, nunca, julgar alguém por apenas um comportamento. Nós nem sempre estamos em um bom dia, felizes, tranquilos e com as contas todas pagas, afinal, a vida hoje em dia é uma loucura. É inevitável que vez ou outra tenhamos comportamentos não condizentes com a nossa essência como seres humanos, mas eventualmente acontece, pois não somos impermeáveis às falhas.

A questão que fica para mim é: se somos todos igualmente imperfeitos e diferentes, por que não somos igualmente tolerantes com nossas diferenças e imperfeições?