Como dizer ao seu parceiro que você precisa de “um tempo só para você”.

Esses dias recebi o telefonema de uma amiga que queria conversar, porque o seu parceiro tinha acabado de fazer as malas e sair de casa. Escutei a história com o coração despedaçado por ela. Já há alguns meses eu vinha acompanhando a valsa descompassada dos dois e as muitas tentativas dela de fazê-lo se abrir e ser transparente, pois a falta de comunicação e confiança estava claramente afetando a relação entre eles.

O longo caminho que ela percorreu na tentativa de fazer o casamento melhorar foi desgastante, e ao falar com ela era possível sentir a falta de esperança em sua voz.

Durante esta crise, tenho escutado diversas narrativas de casais desabafando sobre a dificuldade de gerenciar os relacionamentos, que – sem intenção nenhuma de fazer chacota – são basicamente variações de “se nós não ficarmos em cômodos diferentes em casa vamos nos matar”.

Imagem pxhere

Estar juntos 24 horas por dia não está sendo uma tarefa tranquila para muitas pessoas, principalmente porque, impossibilitados de sair, acabamos não conseguindo ter um “tempo para nós”. Eu, que sou introvertida, aprecio e preciso ter os meus momentos ‘sozinha’, mas há quem não goste ou não consiga ficar sozinho.

Minha amiga, em meio a todo o seu sofrimento, optou por mergulhar de cabeça no trabalho, na resolução de problemas familiares, e simplesmente ignorou todas as suas necessidades pessoais.

Contudo, se não nos reenergizamos constantemente, uma hora ou outra atingimos o nosso limite, e então o tempo que levamos para recarregar as baterias acaba sendo muito maior.

O interessante é que maioria das pessoas se esquece do princípio básico:

“Coloque a sua máscara antes de ajudar a outra pessoa”. 

Mesmo quando temos consciência da importância de dedicarmos parte do nosso tempo à nossa saúde física e mental, a tarefa de comunicar nossas necessidades pessoais aos nossos parceiros pode não ser tão simples assim, muitos acabam se vendo diante de uma muralha de sentimentos de culpa e vergonha, sem ideia de como farão para escalá-la e chegar ao outro lado.

Fonte: Giphy

Para evitar que os efeitos da falta de comunicação, acompanhados de ressentimento e exaustão, recaiam sobre o seu relacionamento, em primeiro lugar, saiba o que você precisa.

Isso pode parecer óbvio, mas não é incomum confundirmos o que precisamos, com o que queremos, e existe um espaço enorme entre os dois verbos.

Reserve alguns minutos do seu dia para colocar no papel quais atividades lhe trariam maiores benefícios, sinta e deixe a sua mente fluir, não pense demais. No meu caso, quando se trata de relaxar, me imagino em uma casa no campo, em um dia ensolarado, sentada em uma poltrona confortável ao ar livre, bebendo um bom vinho e lendo um bom livro.

Mas é claro que, além dessa, existem muitas outras opções mais viáveis que podemos considerar, simplesmente me sentar no sofá por alguns instantes no final do dia para ler um livro já é bastante relaxante para mim, por exemplo.

A minha dica é:

Mesmo que bata aquele sentimento de culpa quando considerar que gostaria de fazer uma aula de violão para espairecer e ter um momento de autocuidado, faça, teste, veja se isso lhe traz emoções positivas.

Depois de pensar com cuidado em como gostaria de passar o seu tempo pessoal, pense em como você conduzirá a conversa com o seu parceiro.

O momento ideal não existe…escolha o melhor momento.

O melhor momento não é aquele em que a pessoa acabou de finalizar o dia de trabalho, está dando comida às crianças ou colocando-as para dormir. Por mais que a sua ansiedade te torture, contenha-se e inicie a conversa quando vocês estiverem em um momento mais relaxado.

Lembrando que a intenção não é desafiar a outra pessoa, mas conectar-se a ela, faça disso um momento leve e de descontração entre vocês.

Nunca se esqueça de que vocês jogam para o mesmo time, ok?!

Você está ao lado do seu parceiro para que se apoiem, se impulsionem, se ajudem, cresçam e se desenvolvam juntos, e o cuidado com a saúde um do outro também deveria entrar nesse “pacote”.

Isso significa que não faz sentido você iniciar a sua conversa culpando-o de algo ou fazendo críticas, esse tipo de postura apenas o colocará na defensiva. Diga o que você está sentindo, o que tem em mente e pergunte o que ele pensa a respeito.

Simplesmente escute, não é tão difícil assim.

Eu sempre digo a quem eu posso: seja ouvinte quando está na posição de… ouvinte! Se você, teoricamente, está escutando o que a outra pessoa tem a dizer, não faz o menor sentido você ficar pensando no que vai dizer em seguida enquanto ela ainda está falando!

Ou você está dando a sua atenção ou não está.

E se você não escuta TUDO o que a pessoa tem a dizer, a comunicação fica prejudicada e as chances de a conversa não terminar bem aumentam significativamente.

Estamos aqui falando sobre dar e receber, não se esqueça disso.

Ok. Você quer alguma coisa, mas tem que estar disposto a ceder um pouco também. E todos sabemos que, na prática, não é bem isso o que acontece.

A resposta à questão é simples: falta de empatia.

Se você está sentindo a necessidade de ter um tempo para você, é bastante provável que o seu parceiro esteja sentindo o mesmo, por isso considere pensar em atividades que possam fazer bem a ele, das quais ele desfrutaria.

Assim, você pode integrá-lo à sua conversa, mostre que também pensa em seu bem estar e o considera quando faz planos.

Acredite, fazer check ups nos seus relacionamentos são tão efetivos quanto qualquer outro check up

Verdade seja dita: nenhum relacionamento interpessoal é tão simples quanto parece, especialmente quando adicionamos um toque de intimidade a ele.

Quantas vezes você pergunta ao seu parceiro como ele está se sentindo?

Reservar um momento para fazer esse tipo de interação é essencial para manter a conexão e comunicação entre o casal. Não estou dizendo que você precisa agendar uma vez por semana para fazer isso, mas façam sempre que tiverem a oportunidade, nunca deixando um espaço muito grande entre uma conversa e outra.

Eu sempre prezei pela comunicação em meus relacionamentos, com o meu marido eu pratico isso há 10 anos. Quando nos conhecemos ele era muito fechado, para conseguir discutir qualquer coisa com ele eu levava mais de uma semana e esse comportamento começou a nos prejudicar, porque “arrastar” os problemas tornou-se desgastante.

E para conscientizá-lo, eu mostrei a ele que aquela configuração não estava funcionando. Veja bem, eu não briguei, não gritei, não xinguei, simplesmente fui mostrando, em doses homeopáticas e com empatia, as consequências que o seu silêncio estava provocando.

O processo foi difícil? Sim.

Eu sofri no início, no meio e no final? Sem dúvidas.

Demorou? Com certeza, pois estamos falando de mudanças de hábitos.

Mas como eu sempre soube o motivo pelo qual estou com ele, eu não tive preguiça de me dedicar, mas sabia que me arrependeria se não tentasse.

Por mais acostumados que a gente esteja de se comunicar de determinada maneira, e cogitar em fazer qualquer mudança pareça ser algo inconcebível, é possível incorporar novos comportamentos se estivermos inclinados a nos desenvolver, sermos melhores e viver uma vida mais tranquila.

Mudar exige muito de nós, mas sempre que pensar em desistir, lembre-se de que dentro de um ano você estará se comunicando: ou como sempre se comunicou, ou de forma mais empática e clara, e terá afastado de você qualquer dinâmica negativa que estivesse ao seu redor. Vale a reflexão.

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